Entrevista com Jean-François Couëc em Idealista/news

2021

Foi em abril de 2021, em plena pandemia da Covid-19, que se soube que o grupo francês Kardham tinha “aterrado” em Portugal, tendo aberto uma filial em Lisboa. As expectativas em torno da operação nacional são elevadas, sendo “Portugal uma terra de crescimento e de oportunidades”, tal como revela Jean-François Couëc, Managing Partner do grupo Kardham, em entrevista ao idealista/news.

Numa conversa realizada durante o SIL 2021, na qual também participaram David Habrias, Diretor Geral do grupo Kardham, e o arquiteto luso-francês Frédéric Fernandes, diretor da Kardham Portugal, Jean-François Couëc desfaz-se em elogios a Portugal e fala sobre os planos que a empresa tem para o país, nomeadamente para o segmento de escritórios: “A tendência global é que, após a crise pandémica, as pessoas trabalhem cada mais remotamente, pelo que o espaço de uso dos escritórios está a mudar muito rapidamente, e somos especialistas nisso. Estamos a implementar escritórios flexíveis para os nossos clientes”.

Sem abrir o véu sobre futuros projetos no país, por questões de confidencialidade, o responsável adianta, no entanto, que a Kardham Portugal já tem um negócio em vista. Trata-se de um projeto residencial localizado no sul do país. Contamos tudo sobre a operação do grupo Kardham em solo nacional. E as suas ambições não se ficam por aqui: "Já estamos há alguns anos na Liga dos Campeões de França e queremos estar na Liga dos Campeões da Europa", diz o responsável.

 

David Habrias, Frédéric Fernandes e Jean-François Couëc (da esq. para a drt.), durante o SIL 2021

Fale-nos um pouco sobre a atividade do grupo Kardham e da sua entrada em Portugal.

O objetivo da Kardham consiste em fornecer aos clientes soluções imobiliárias globais, com uma obsessão: é que os utilizadores, as pessoas que estão nos edifícios que projetamos ou reformulamos, vivam num lugar melhor que no passado ou noutro lugar. Foi assim que começámos há quase 30 anos em França, em Estrasburgo.

O objetivo foi sempre projetar e construir escritórios que atendessem às necessidades dos utilizadores. A obsessão são os utilizadores, as pessoas que trabalham nos edifícios. Começámos no segmento de escritórios, que representam a maioria dos nossos projetos, cerca 70% ou 80%. Mas também projetámos estádios, prisões, hospitais, universidades, aeroportos, etc., sobretudo em França.

O que faz em concreto o grupo Kardham?

Fazemos serviços de consultoria integrada, arquitetura e engenharia e serviços digitais e de design. Não somos construtores. Trabalhamos no design dos projetos, fazemos gestão de obras e somos também consultores. Temos 50 consultores que atuam antes do projeto existir, nas questões de planeamento, no masterplan, etc. Temos 100 arquitetos e em França estamos no top 10 dos melhores gabinetes de arquitetura. O Frédéric Fernandes, que é o nosso diretor em Portugal, é arquiteto de profissão e trabalhou em França durante 10 anos, aproximadamente, no nosso escritório.

Temos também o negócio de ‘fit-out’, design de edifícios, sobretudo, para o segmento de escritórios: são 200 pessoas. Há ainda engenheiros, cerca de 30 pessoas, e no negócio digital são 50 pessoas. Somos ao todo cerca de 400.

“Já estamos há alguns anos na Liga dos Campeões de França e queremos estar na Liga dos Campeões da Europa. Isto demora tempo, e na Europa é preciso ir de país em país“

Jean-François Couëc, Managing Partner do grupo Kardham

Em França, estamos no top 3 neste setor e somos a única empresa independente, mas os nossos clientes franceses querem que trabalhemos na Europa para eles, sendo que há também clientes internacionais que precisam de nós para trabalhar em França. Significa que estamos a internacionalizar-nos. Já estamos há alguns anos na Liga dos Campeões de França e queremos estar na Liga dos Campeões da Europa. Isto demora tempo, e na Europa é preciso ir de país em país.

Portugal é a primeira “aventura" do grupo Kardham fora de França?

O nosso primeiro projeto internacional foi em Marrocos, em 2016. Temos 10 pessoas a trabalhar em projetos nossos. Agora estamos a construir uma rede de parceiros na Europa, que nos permitirá realizar/desenvolver os nossos projetos no mercado europeu. Em Portugal teremos a nossa segunda base fora e penso que vamos ter uma terceira, pelo menos, noutro ponto europeu até ao final do ano. Estamos a comprar uma empresa noutro país.

Porque escolheram Portugal para iniciar o plano de expansão internacional?

Como uma subsidiária integral do grupo Kardham, Portugal é o segundo país. Acreditamos que esta é uma terra de crescimento e de oportunidades para todos os nossos negócios. Em segundo lugar, há uma ligação sentimental e emocional forte entre França e Portugal. E agora que voltou a ser de novo um país em crescimento, os portugueses estão a voltar. Foi exatamente o que aconteceu com o Frédéric.

Mas há mais coisas a ter em conta: Portugal é uma terra de inovação, tal como a França. No digital, Portugal está no topo da Europa, assim como França.

Há ainda outro detalhe importante, apesar do país estar a recuperar o atraso em relação a outros países europeus nas últimas décadas, há ainda muito para fazer em Portugal. A indústria dos serviços não representa tanto no PIB em comparação com outros países europeus, o que significa que Lisboa e Porto irão precisar de mais escritórios e serviços, ou seja, haverá crescimento. E as empresas que vão liderar o crescimento serão grupos internacionais, incluindo grupos franceses, e muitos deles são nossos clientes. Ou seja, estamos aqui para ajudar esses clientes, temos resposta a necessidades sofisticadas em termos de design de escritórios e de gestão de projetos.

Há espaço de crescimento para a Kardham em Portugal. E não apenas no mercado de escritórios. Portugal está a investir também em infraestruturas e no segmento digital, e a Kardham tem muitas qualificações para ajudar não apenas no segmento de escritórios, mas também noutras àreas, como residencial, hospitalidade, educação, etc.

Atualmente, num cenário de pós-pandemia (esperemos), a procura pelo mercado de escritórios em Portugal tende a aumentar? 

A tendência global é que, após a crise pandémica, as pessoas trabalhem cada vez mais remotamente, pelo que o espaço de uso dos escritórios está a mudar muito rapidamente, e somos especialistas nisso. Estamos a implementar escritórios flexíveis para os nossos clientes.

"A tendência global é que, após a crise pandémica, as pessoas trabalhem cada vez mais remotamente, pelo que o espaço de uso dos escritórios está a mudar muito rapidamente, e somos especialistas nisso. Estamos a implementar escritórios flexíveis para os nossos clientes"

Em França, implementamos soluções de escritórios flexíveis em grande escala há mais de 10 anos. Um dos nossos maiores projetos é a sede da Capgemini [multinacional francesa que está entre os maiores fornecedores de serviços de consultoria, tecnologia e outsourcing do mundo] em Paris: são 35.000 mil metros quadrados (m2) de escritórios totalmente flexíveis. E agora, com a pandemia, mesmo a Capgemini quer fazer um ‘update’ e tornar o espaço do escritório mais atraente para as pessoas voltarem, mas com mais espaços colaborativos.

Já há algum projeto em vista em Portugal?

Começámos em Portugal no início do ano. Nomeámos um diretor, o Frédéric, e contratámos alguns arquitetos. Temos um escritório em Lisboa e a Kardham Portugal está em andamento. Já recebemos uma atribuição, não para o segmento de escritórios, mas sim residencial. Foi uma oportunidade que surgiu e nós agarrámo-la, porque também trabalhamos em projetos residenciais. É um cliente português. Está muito no início e não podemos revelar detalhes. Podemos dizer apenas que estamos a acompanhar os nossos clientes e que será no sul de Portugal.

Quanto esperam investir este ano e no futuro em Portugal?

Esperamos ter, nos próximos quatro anos, cerca de 10 pessoas em Portugal. E diria cerca de um milhão de euros em volume de negócios, apenas como serviços de design de arquitetura e gestão de projetos. O que também é importante para nós é que, com a aposta em Portugal, conseguiremos ir além-fronteiras.

"A história de Portugal é incrível e estamos, neste momento, a assistir a um renascimento de Portugal. E Portugal e os franceses trabalham bem juntos, então esta é uma grande oportunidade para nós. Apesar de ser um país pequeno, temos uma grande ambição para o país"

 

A história de Portugal é incrível e estamos, neste momento, a assistir a um renascimento de Portugal. E Portugal e os franceses trabalham bem juntos, então esta é uma grande oportunidade para nós. Apesar de ser um país pequeno, temos uma grande ambição. 

Temos três pessoas no escritório de Lisboa e devemos ter cinco até final do ano. Se formos 10 pessoas nos próximos três, quatro anos posso dizer que terá sido um sucesso. É que essas pessoas trabalharão em estreita colaboração com a equipa francesa. Apesar de estarmos a “servir” o mercado português, o grupo Kardham é, de certa forma, uma grande família, com qualificações que podem ser partilhadas.

Não será um pouco arriscado investir agora, em tempos de pandemia, em Portugal?

Não se é empreendedor se não se correrem riscos. Se se tiver uma forte convicção de que o jogo vale a pena, então joga-se o jogo. 

Que clientes poderão investir em Portugal nos próximos tempos com o apoio do grupo Kardham?

A confidencialidade é muito importante, especialmente quando se inicia um negócio, mas posso dar um exemplo ou contar uma história. A Capgemini, que se fundiu com a Altran [a compra aconteceu este ano], está a implementar um novo masterplan para toda a Europa. E nós somos parceiros próximos da Capgemini. Não estou a dizer que a Capgemini tem um projeto para Portugal, e mesmo que soubesse que tinha não o poderia revelar, mas este é o exemplo típico do tipo de cliente que vai “chamar” pela Kardham.

E vou contar outra história, relacionada com a Natixis [banco francês], que já está em Portugal. Somos os designers da nova sede em Paris: são 100.000 m2 e 7.000 pessoas a trabalhar nesses locais. As obras de construção começaram agora. A Natixis ligou-me há três anos a dizer que tinha um grande projeto no Porto. Disse que claro que poderíamos ajudar, mas eles disseram que não seria a Kardham, porque não estávamos ainda em Portugal. Este é o tipo de oportunidade que teremos, porque já tivemos no passado.

Que mensagem gostaria de deixar aos leitores e, em concreto, aos vários ‘players’ do mercado imobiliário que atuam em Portugal?

É interessante comunicar e passar a mensagem de que a Kardham é um conjunto de pequenas empresas. Se uma empresa portuguesa se quiser juntar ao grupo Kardham ficaremos felizes em trabalhar com eles. E se eles se quiserem juntar ao Frédéric, como uma subsidiária, ou empresa assistente, o grupo Kardham ficará feliz. Queremos facilitar a consolidação desta indústria. Muitas das empresas que adquirimos escolheram a Kardham porque sabem que incorporarão um grupo empreendedor, ágil e com um estado de espírito familiar. Isto é importante porque as empresas que se juntarem a nós sabem desde logo que podem continuar a ser elas próprias, mesmo integrando um grupo grande.

 

 

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